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2023 e seus acontecimentos

PERCEPÇÕES SOBRE AS FINANÇAS SUSTENTÁVEIS

Para o bem ou para o mal, 2023 foi um ano marcante. De troca de governo no Brasil em janeiro a COP nos Emirados Árabes em dezembro, o ano passou por ondas de calor, El Niño no Pacífico, Plano de Transição Ecológica, lançamento dos Títulos Verdes e com o Brasil tomando posse como presidente no G20. Além disso, iniciamos a segunda metade (contada a partir de 2015) do tempo disponível até às metas de 2030. Com muitas dúvidas, alguns avanços e poucas certezas, cabe a pergunta: em que pé estamos atualmente?

Sem pestanejar, é preciso afirmar que estamos muito aquém do necessário. Melhor dizendo, o ano de 2023 foi marcado por aumento das emissões de GEEs, aumento nas temperaturas, piora nos índices de desenvolvimento social e contínua perda da biodiversidade terrestre. As informações disponíveis no Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2023 não apenas sinalizam este retrocesso, como também apontam para uma fraca mobilização  da comunidade internacional para lidar com os principais problemas socioambientais vigentes. Nas palavras do próprio documento, avisa-se de forma objetiva – “This special edition of the Sustainable Development Goals Report reminds us that there is still much work to be done. O atraso também é sentido nas atividades das grandes corporações, as quais estão com apenas 15% dos seus compromissos ligados aos ODS encaminhados (Valor, 2023).

Além disso, todos esses problemas se agravam pela falta de investimento em projetos para a transição climática. Segundo relatório divulgado em novembro pelo CPI, os investimentos em finanças sustentáveis não apenas são insuficientes, como também inconsistentes. Assim, para além de chamar atenção ao gap financeiro em mitigação e adaptação (esta última frente recebe USD 63 bilhões ao ano, quando o necessário seria  USD 212 bilhões até 2030), o documento destaca a concentração geográfica dos investimentos. Neste contexto, os dados apresentados indicam que 84% de toda a finança climática se concentra nos países desenvolvidos e no leste asiático. O cenário se torna ainda mais pessimista quando consideramos que menos de 2% das finanças vão para os 10 países mais afetados pelas mudanças climáticas e menos de 3% para países de baixa renda.

Imagino que para o leitor(a) que chegou até aqui o texto de retrospectiva mais se parece com o Inferno de Dante (literalmente, se for considerar o fogo e algumas regiões frias que ficam espalhadas). Mas mudemos de rumo e passemos a falar de algo mais próximo a nós, o Brasil. Segundo o Sétimo Relatório Luz (GTSC A2030) divulgado em 2023, o cenário nacional é de retrocesso de ao menos 102 metas ligadas às ODS. Consequentemente, os desequilíbrios ambientais começaram a ser mais frequentes e, apenas no Brasil, de janeiro a setembro foram perdidos USD 555 milhões (Valor, 2023) com desastres naturais (destaque para as chuvas no Sul). Enquanto isso, o relatório de junho divulgado pelo MapBiomas apontou para um aumento de 22,3% na área desmatada. Os dados referentes ao ano de 2022, apontam para uma perda de até 90% concentrada apenas no Cerrado e na Amazônia, sendo no Pará os maiores índices de perda. A situação é complexa, pois todos os biomas apresentaram aumento na área desmatada.

Mas este não é o fim. Antes que a gente saia dessa retrospectiva com uma sensação de profunda melancolia e se questionando “E agora, José?”, algumas ressalvas precisam ser consideradas. Primeiramente, rebatendo os dados de Junho que mostramos acima, as informações do INPE divulgadas nas últimas semanas apontam para uma queda de 22,3% do desmatamento na Amazônia entre 2022 e 2023. Ainda no contexto nacional, a divulgação do Plano de Transição Ecológica, a aprovação da regulamentação do Mercado de Carbono, as emissões dos Títulos Verdes e o recente aumento do Fundo Amazônia trazem um sopro de otimismo de que podemos ter um futuro com mais iniciativas relacionadas à transição climática. Além do mais, no contexto internacional tivemos importantes sinalizações na COP 28 quanto à criação do Fundo de Danos para países de baixa renda e na inclusão dos combustíveis fósseis no documento final do encontro. Por fim, é importante destacar que embora os investimentos sustentáveis ainda sofram com todos os problemas já citados, há um nítido crescimento dos financiamentos sustentáveis ao redor do mundo no último ano.

Sabemos que muito ainda precisa ser feito, mas deixar de considerar os recentes avanços e acreditar que a crise climática não tem mais retorno é abrir mão de um jogo ao qual o juiz não apitou seu fim. Existem muitas instituições sérias para enfrentar este momento e a possibilidade de retorno só é possível pelo trabalho cotidiano de quem acredita em um futuro mais sustentável e justo. Ao menos é assim que a Impacta pensa e foi esse o motivo do seu surgimento em 2023. Existimos pela crença de que podemos superar o problema e pela confiança no trabalho dos outros atores no ecossistema. Nosso objetivo de facilitar o fluxo de capitais para negócios alinhados com o desenvolvimento sustentável e impacto positivo é a nossa resposta de esperança para melhores tempos futuros.

As duas últimas linhas do poema José citado anteriormente, nos questiona – “você marcha, José! José, para onde?”.  Esperamos que para um local menos quente, com menos emissões, menos desastres ambientais e mais florestas nativas. A Impacta está aqui para procurar esse novo caminho.

Um bom 2024 a todos e todas!

Equipe Impacta

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